sexta-feira, outubro 28, 2005

PRESIDENCIAIS

NÃO ENTRES DÒCILMENTE NESSA NOITE SERENA

Não entres dòcilmente nessa noite serena,
porque a velhice deveria arder e delirar no termo do dia;
odeia, odeia a luz que começa a morrer.

No fim, ainda que os lábios aceitem as trevas,
porque se esgotou o raio nas suas palavras, eles
não entram dòcilmente nessa noite serena.

Homens bons que clamaram, ao passar a última onda, como podia
o brilho das suas frágeis acções ter dançado na baía verde,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E os loucos que colheram e cantaram o voo do sol
e aprenderam, muito tarde, como o feriram no seu caminho,
não entram dòcilmente nessa noite serena.

Junto da morte, homens graves que vedes com um olhar que cega
quando os olhos cegos fulgiriam como meteoros e seriam alegres,
odiai, odiai a luz que começa a morrer.

E de longe, meu pai, peço-te que nessa altura sombria
venhas beijar ou amaldiçoar-me com as tuas cruéis lágrimas.
Não entre dòcilmente nessa noite serena.
Odeia, odeia a luz que começa a morrer.

DYLAN THOMAS ( 1914-1953 )