ABORTO II
Foi-me impossível não voltar a este tema, pela mesma razão porque acho que, quer se queira ou não a discussão está eivada de má- fé.
Para começar, a pergunta do referendo é suficientemente clara nos seus propósitos e na sua formulação. Ao mesmo tempo que " protege " a liberdade da mulher e do casal já agora, dá-lhes um tempo de reflexão que lhes permita DECIDIR se querem ter o filho que geraram. Se o tempo de reflexão é curto ou longo é outro assunto que outros Estados resolveram à sua maneira aumentando-o para 20 ou mesmo 24 semanas. O motivo desta moratória prende-se naturalmente com um conceito até hoje não definido dos direitos do embrião, feto,criança, etc, que fez com que a liberdade, sempre regulada nas sociedades democráticas não se sobrepussesse sobre o direito da Vida, de cuja existência intuímos sem a conseguir formatar em termos jurídicos.
É evidente que a banalização contemporânea da Vida e da Morte entra nessa discussão e não vale a pena tentar uniformizar o que marca indelèvelmente a raça humana - a Liberdade. Só que essa liberdade foi a razão da necessidade de nos juntarmos em sociedade, obedecendo às leis que os Governos por nós empossados vão definindo.
Tudo isso para dizer que o bom senso de abortar ou não, com ou sem razões individualmente válidas só poderá ser enquadrado pela LEI. Mas QUAL DEVERÁ SER O PRAZO DO BOM SENSO!!!? E quem definirá isso? O Estado? A consciência individual em referendo?
Pois é.. por isso ser uma matéria de consciência, também ela matéria de legislação que não da Ciência ou da Religião eu, indivíduo adulto do sexo masculino com 59 anos, com dois filhos , uma neta, ateu, políticamente desenquadrado, éticamente formado, amante da LIBERDADE, me abstenho de ir votar. E porquê?
Porque ainda me interrogo... e o tempo que me resta será talvez insufuciente para votar em consciência.
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