terça-feira, dezembro 17, 2013

D' A FELICIDADE...

... COMO CIÊNCIA


Sigo, com agrado, desde o primeiro texto na Revista do Expresso, as crónicas de desabafo, chamemos - lhes confessionais, do padre Tolentino Mendonça. A última  foi sobre a felicidade, ou melhor, a infelicidade, vista, pela resistência com que obsta à sua irmã virtuosa, uma aquisição cultural, pois que artificial e descartável, que resiste, por ocupação indevida, ao pleno usufruto da Felicidade.

Como removê -la? Através do reconhecimento, pela aprendizagem, que requer competências, naturalmente, em suma, através da Ciência da Felicidade.

Tinha acabado de ler na página anterior os Defuntos, prestamistas e massagistas de Clara F.Alves e não pude deixar de reparar no extraordinário contra - ponto da racionalidade céptica e crítica do texto, em oposição à metafísica de boa - vontade da página seguinte do padre Tolentino. Onde no primeiro texto se aborda a felicidade e sucesso individual, conseguida, retratada e eventualmente exemplar para muitos, com evidentes competências exigidas e requeridas no outro texto na procura de uma substantividade que preencha um guia espiritual prefaciante de uma Ciência de Felicidade, vejo um formidável manual de empreendedorismo, um almanaque ad- hominem que nos aponta em três passos a promessa de - Se for feliz o mundo à volta sê - lo - á, por solidariedade, suponho...

Vejamos... Somos muitos e creio que, pelo menos na cabeça e no coração de cada um de nós, há uma visão, de fé, do que seria ser - se feliz, só que também há uma consciência, ( onde ela exista e é aqui que as coisas se complicam... ) que só a Vontade não chega e só uma vontade feliz também não. A felicidade pessoal será coisa não - existente, a não ser como representação humana de uma Felicidade, que universal, nos remeteria ao divino e só em Deus ela seria possível.

Acontece que essa Fé teria de nos converter a todos e a história do humano já nos ensinou experimentalmente, na carne e no espírito, o tipo de Felicidade que se alcançou e que se revelou, no mínimo, contraproducente, mesmo que adornada e reconfigurada em Ciência.
Há, evidentemente, quando as infelicidades de um povo se somam, uma negação do acaso e não da sua aceitação, que se manifesta no seu percurso vital, a que a sua contextualização e acção concreta de repúdio poderá conduzir a outros desfechos mais felizes.
A felicidade circunstanciada na coincidência de momentos e realidades irrepetíveis que proclama o -Estou feliz - tem sido a única versão conhecida e reconhecida entre os humanos.
A sua outra essência, a existir na mente dos Homens, são dos resquícios metafísicos e religiosos que a moldou. É uma memória de um paraíso perdido para os insolventes, parafraseando C.F.A.
Quanto aos outros, os takers, vão tendo, enquanto deixarmos, a que não lhes é devida e que tem sido retirada a TODOS. 

Só há uma CIÊNCIA contra isso. E também a história nos ensinou o que acontece quando ela se torna de conhecimento da maioria...
Como também é evidente que a busca da felicidade colectiva é um conceito político - cultural utópico e por isso dinâmico, assim o deverá ser a procura do bem - estar individual. São deveres e direitos inalienáveis, por essência.

Vamos ser felizes e já agora, porque não por decreto?

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