A AUSÊNCIA...
...Da autoridade do Estado como elemento primordial na escalada mortífera dos incêndios em Portugal tem sido a marca de água recorrente quando se procura, analítica e não empiricamente, baseada em intuições e presunções, os culpados da contumácia quase criminosa.
A nauseante cobertura mediática com que as televisões nos tem brindado, em modo espectáculo, nas desgraças terroristas ou naturais, assim como nas misérias humanas, não tem ajudado à análise, salvo em aparições fugazes de especialistas, que não da enxurrada de opiniões a contaminar a discussão sobre o porquê dessa recorrência de incêndios devastadores.
O incendiário anónimo mais as suas e alheias motivações, o negligente e as trovoadas estando por vezes na origem dos fogos, têm sido, pela exposição redutora apontados genéricamente como os culpados das desvastações das florestas e matas portuguesas.
Não houve nenhum governo pós- Abril que não se debruçou sobre este tema e sobre ele apôr uma enxurrada de normas, dinheiro e um monumental e progressivo católogo de boas - intenções. No entanto, o aspecto mais importante do combate aos fogos florestais que não sómente na multiplicação de meios instrumentais, quartéis de bombeiros por todo o lado e últimamente a parceria público/privada SIRESP, não tem passado do papel. Refiro - me à PREVENÇÃO.
Incêndios, claro, fazem parte do sistema natural. O que não é natural tem sido o alargamento das áreas da sua incidência e isso é culpa de todos. " Há incêndio porque há mato; há mato porque há abandono porque é sabido que não há rentabilidade " - Capoula Santos, ex-ministro da agricultura, e eu acrescentaria que a desordenação agro-florestal nasce dos incentivos governamentais no " ouro verde " que inundou o país em rentabilização de courelas por tudo o que é parcela e... oh Deus as parcelas que há em Portugal!... Só por pura sorte o número das vítimas não foi superior, dada a excepcionalidade das condições que lhe deram origem. Culpados? O país que não cumpre as normas de prevenção impostas por lei e, principalmente as instituições que têm ou deveriam ter a seu cargo o controlo da fiscalização e a coerção fiscalizadora.
Desbravar os interesses económicos, político/empresariais que se acoitam por detrás da manutenção desse status quo paralisante exige uma abordagem séria, corajosa e... definitiva que só uma Comissão ad hoc independente e completamente alheia aos interesses em presença trace, não pistas mas deliberações a apresentar à Assembleia Legislativa no sentido da dramatização legal preventiva dos fogos florestais. Apesar de, como dizia Folque, um país sem o conhecimento do seu cadastro territorial ( que não existe... ) ser sempre atrasado no sentido da implementação das suas directrizes económicas, florestais e agro- alimentares, quero crer, pelo menos no que à propagação física dos fogos florestais concerne, que já se passou o tempo do debate sobre um assunto de candente interesse nacional.
E as decisões que urgem já tardam...
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