sábado, julho 16, 2005

CRIOULO-LINGUA OFICIAL EM CABO VERDE? parte II

...Pelo que me foi dado a ver,aliás sempre foi assim,a dificuldade "oficial" no posicionamento do crioulo em relação à actual Lingua Oficial,está no tipo de relacionamento (paridade) que o caboverdiano sempre teve em relação ao Português.

Sempre foi motivo de sarcasmo e faz parte do anedotário indígena as "topadas" que o natural protagoniza quando se aventurava na Lingua de Camões,agravado pelo facto do crioulo falado nas cidades ser um Português deturpado,onde as regras gramaticais e as expressões verbais crioulas criarem situações de um quase bilinguismo temporal em quem se expressa normalmente em Português.

O ensino do Português devia ser fortemente estimulado desde a pré-primária,criando uma distinção clara entre o Português e o Crioulo,pondo em relevo a Lingua Didática e as vantagens decorrentes do seu uso a nível pedagógico,científico e institucional,sem apelo nem agravo.
A obrigatoriedade do seu uso a nível oficial em organismos do Estado não obrigaria,naturalmente,o seu uso pelos utentes,mas sim pelos funcionários,cuja formação exigiria o seu domínio.

Olhando para os altos dirigentes do Estado,apesar de exercerem num Estado diglóssico (G.Almeida dixit),conseguem, sem grandes entraves,expressar-se nas duas linguas conforme o queiram.Mas o Povo,apesar de, et pour cause,viver em diglossia não é bilingue,expressando-se pelo veículo que melhor lhe permite comunicar:o crioulo.A possibilidade de também ele poder expressar-se em Português se o quiser e correctamente,deve ser uma preocupação futura do ESTADO.Direi mesmo que é uma Obrigação.

O uso indiscriminado e coincidente no tempo do Português e do Crioulo,sem que venha mal algum ao mundo,faz com que,a outros níveis,no jornalismo ou mesmo na Literatura se encontrem textos escritos em Português com graves erros de concordância,de sintaxe,de ortografia,de referências (aqui a questão é cultural),etc

Dissertando sobre o mesmo tema,Germano Almeida diz,citando um professor-..."neste momento não deixamos os nossos alunos...expressar em crioulo dentro da aula."E eu pergunto:expressar o quê?As pessoas expressam-SE numa Lingua e quando o fazem expressam O que lhes vai na alma.Há uma diferença,nâo?,mas isso é um mal geral que enferma também os portugueses-o desconhecimento dos verbos transitivos,reflexos e da gramática em geral.

Temos uma expressão em crioulo que diz que "Na crioulo tudo dáda ê dáda",ou seja vale tudo (desde que a comunicação se faça,acrescento eu).Ora sendo assim é bom que separemos a Lingua do Idioma de maneira a que contribuemos que a nossa Lingua oficial fique a salvo de diatribes que só a empobrecem e deixemos o nosso Crioulo fluir,solto,indomável,musical,sem amarras gramaticais ou POLÍTICAS,se não o quisermos matar.O maior perigo para o Crioulo é INSTITUCIONALIZÁ-LO.

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