Assente a poeira sobre polémica ausência do ex - presidente da República às comemorações oficiais do 25 de Abril e para além da simpatia pessoal e não política que consagro ao cidadão Mário Soares, um homem sério ( para utilizar a sua terminologia... ) permito - me lembrar duas coisas...
A diferença fundamental que havia entre Soares e Alegre e anteriormente com Cunhal, principalmente com este, estaria na separação da personalidade política da pessoal que Soares sempre fez em relação aos seus adversários ideológicos, atitude impensável para Cunhal que do urbano e institucional relacionamento sempre separou as águas.
A proximidade política, ética, filosófica, cultural seriam condições essenciais a um relacionamento " simpático ", quando não empático, com o Outro.
Soares é praticante de uma pandemocracia que não distingue o Homem das suas ideias aos quais, independentemente das suas virtudes, algumas mencionadas um pouco acima, atribui respeito, em nome da democracia e da liberdade e, se empunhadas por quem nutre simpatia pessoal, não se coíbe de tecer alibis virtuosos ao carácter do Outro, tidos como meritórios e devidos. A sua deriva ideológica, melhor, consistência, deriva desse posicionamento.
Já a Direita ideológica é mais consistente no que às afinidades pessoais com Soares lhes diz respeito. Dos seus " sótãos " expulsaram e expulsam em antipatia o aristocrático político. Eanes nutre - lhe desprezo. Cavaco, profundo ressentimento político e distâncias vingativas, o que para mim só devia abonar pessoalmente Mário Soares; na verdade isso não acontece. O ex - presidente SENTE mais do que devia essas hostilidades pessoais, mas também sentiu como ofensa pessoal e não devia, junto dos correligionários Zenha e Alegre, o afrontamento POLÍTICO.
Para um político que combateu e combate IDEIAS e não pessoas e que o faz considerar sérios ( termo ideológicamente inconsequente ) adversários que não o consideram sério, é de uma ingenuidade tremenda.
Por mim, na política o homem faz a função assim como a função faz o homem e os fins estão íntimamente ligados aos meios. E só pelos meios posso ajuízar da seriedade dos homens que a conduzem. E também só aí posso alimentar sentimentos de simpatia e juízos parabenizantes pessoais.
A não - comparência de Soares, numas cerimónias alusivas a uma data histórica, essa sim pandemocrata, peca por irreflexão, por confusão entre o contingente e o essencial. Dando de barato que só a impotência leva a Direita hoje a celebrar essa data, essa Direita que se permite enterrar o 1º de Dezembro como se tivesse a importância das celebrações fascistas do 10 de Junho, o famigerado Dia da raça, dizia, deslustrou a força de 25 de Abril.
Foi pena, pelo gozo que também lhe daria ouvir Cavaco a fazer um discurso, contrabandeado é certo, de elogio a um socialista de nome Sócrates pela obra efectuada, em anúncios de excelências tornadas possíveis no Portugal de hoje.
Sem comentários:
Enviar um comentário