Uma das razões do meu medo (aspeio, porque nunca temi nada na vida; ludibriei a Pacificadora por duas vezes... e não acredito que escape à terceira) e da insistência com que abordo a figura e o carácter do Burrocrata ( funcionário do Poder ou não, é uma configuração mental... ) deveu - se à leitura de Arendt e à sua coragem e honestidade intelectual exercitados no fabuloso relatório sobre o Mal, mal, seria melhor pela mesquinhez e banalidade exorcizante de uma qualquer entidade metafísica e desculpabilizante a sobrepujar os nossos actos, no seu livro - Eichmann em Israel - abordando o julgamento da Liberdade versus Obediência vegetativa.
Como nesse confronto universal a liberdade só faz sentido nesse enfrentamento com as realidades terminais, já que fora dele É burocracia e banalidade existencial e não escolha consciente, faltará sempre nas escolhas racionais ( de sapiens adultos ) uma componente essencial à biologia do humano que a Racionalidade, visto como Razão + Ética, necessáriamente deve distinguir em todas as construcções que a banalidade do raciocínio for capaz. E refiro - me à Ciência, à Política e à Tecnologia e à MORAL.
A relação amorosa de Arendt com o filósofo do Ser e do Indizível, Heidegger, o Burocrata que racionalizou a banalidade da Morte, não como um referente natural mas metafísico - " Se trago a Morte para a minha vida, a reconheço e a encaro de frente, liberto - me da ansiedade da morte e da insignificância da vida e só então serei livre para me tornar eu próprio " in Heidegger e um hipopótamo chegam às portas do Paraíso - de Cathcart & Klein, o filósofo que nas palavras de C. F. Alves in Pluma Caprichosa de 12/10/13, deixou de pensar durante a hecatombe nazi, obriga ao abuso da análise comparativa a - posteriori, dos males do conformismo/ aceitação racional de Arendt levado ao absoluto da crença/aceitação moral de um mal objectivo, ( extermínio ) em nome de um bem ( Ordem ) maior, por parte de Heidegger.
O Bem maior que hoje, na mentalidade burrocrática é definida pela aceitação canina das proclamações dos mercados, sobrepujando realidades nacionais que exigem, exigiriam distintas apreciações à luz da racionalidade política, tem sido o marcador do novo milénio nas democracias ocidentais.
Difícilmente, sem um travão conceptual que a Esquerda contemporizadora e estupidificada está a provar não possuir, todo o edifício que está a ser construído, com uma pobreza ideológica que nos remete à Biologia tout-court, ao individualismo contumaz e ao pragmatismo utilitário e instrumental , acabará, (o nazismo é um exemplo recente e ainda se pergunta como foi possível...) por arregimentar, por necessidades induzidas, nações inteiras.
A radicalização, racionalmente sem sentido, identificada na subida eleitoral da extrema direita europeia denuncia o vazio ideológico no substracto a- político faceado pela U.E.
NÃO HÁ IDEIAS, não há pensamento estratégico, há embasbacamento rotineiro e doméstico dominado por tácticas eleitorais de manutenção e alargamento do status actual.
REINA, POIS A BURROCRACIA, é tudo e é grave.
Escolhas? Há sempre...
E socorro - me ainda de Cathcart&Klein - " Malcolm andava a passear quando viu uma rã na sarjeta e apanhou um susto enorme quando, de repente, ouviu a rã dizer - lhe:
- Velhote, se me beijares transformar - me - ei numa linda princesa. Serei tua para sempre e poderemos fazer amor louco e ardente todas as noites.,
Malcolm baixou - se, pôs a rã no bolso e continuou a andar.
- Ó! - disse a rã. - Não deves ter ouvido o que eu disse., Eu disse que se me beijares me transformarei numa linda princesa e poderemos fazer amor louco e ardente todas as noites.
- Eu ouvi -. te bem - replicou Malcolm - mas na minha idade prefiro ter uma rã que fala."
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