segunda-feira, julho 31, 2017

D' OS IMAGINÁRIOS SOCIAIS...

... SUSCITADOS PELO ESTADO ACTUAL DO PAÍS
                                                                 ABEL MANTA


Sobre os " Imaginários sociais modernos ", título do livro de Charles Taylor, um estudo comparativo/evolutivo das pegadas sobre o desenvolvimento dos movimentos políticos, sociais e religiosos que caldearam a sedimentação, no Ocidente e válido para o resto do mundo, dos valores adstritos a cada uma das representações simbólicas ou efectivas, do nosso modo de ser, através da História, há um mundo vasto de hermenêuticas díspares que nos atiram, pela força das reacções destemperadas, a interrogar - nos sobre o espaço social que nos rodeia.

Marca distintiva do que hoje poderíamos chamar de " civilizações ", sob(re) a abrangência do que hoje se apelida de Globalização, as " práticas sociais ", das aldeias às cidades, das nações aos continentes, do Ocidente ao Oriente, definem o que o autor chamou " Imaginário social ".


Qual será, interrogo - me, à luz dessa reflexão, o imaginário social luso? O que pensa o país de si e ... do Outro? Como se protagoniza em relação ao exterior?
Vários personagens ilustres portugueses se debruçaram, uns em angústia, outros satíricamente, outros em escárnio e outros em emulação, sobre essa contingência. De Aquilino a Torga, de Sena a Pessoa, de Almada a O' Neill, de Saramago a Herman José, traçaram pistas de entendimento e catarse à alma lusa, eventualmente imbuídos dessa condição de eles próprios fazerem parte desse imaginário interrogado, numa relação de estima/repulsa tão singular como a deste escriba, ave de arribação de Cabo Verde, desde 1964.

A caracterização do que na gíria e no fado se chamaria a " alma lusa " é um tema sensível e conflitual; provoca reacções extremadas e acefalias recorrentes, quando são denunciados aspectos ( sejamos políticamente correctos... ) menos abonatórios do carácter globalizado do ego português, ( existirá como tal ou é um mito social?), as suas taras e manias, as suas obssessões e presumíveis laxismos morais.
Nem tempo, nem espaço e nem paciência para englobar citações de apoio das investigações sobre os portugueses, dos portugueses e dos outros sobre os portugueses, que sobre o imaginário deles e dos naturais teceram um " imaginário social luso ", fico - me pela vasta experiência das minhas solitárias e partilhadas observações do país e dos seus habitantes, do Portugal de lés-a-lés.

Uma bizarra combinação da mais espontânea generosidade com a mais vil mesquinhez atravessa verticalmente o tecido social luso.
Antes, vai um esclarecimento necessário - " Por imaginário social entendo algo de muito mais vasto e profundo do que os esquemas intelectuais que as pessoas podem acoitar quando pensam, de forma desinteressada, acerca da realidade social ", diz - nos o prof. Taylor.
 É, contudo, exactamente, nesse esquema intelectual que me quero situar, como observador, para lá das " imagens " de conforto ou desconforto que são partilhadas colectivamente.

A auto - flagelação depreciativa, íntima, mas projectada no colectivo, que o atavismo provinciano contemplado pelas necessidades constantes de reforço de auto - estima na relação com o Outro(s) transporta, espraia - se em toda a Comunicação, verbal, escrita ou televisiva, em Portugal, a par da posse simbólica dos sucessos dos conterrâneos. A excelência, que simbióticamente se parasita funciona, compensatóriamente, como placebo temporário até à próxima crise.
Ronaldo, Saramago, Mourinho, entre outras genialidades reconhecidas pelo Outro, são os avatares modernos dessa projecção fantasmática.

Qual o dado adquirido civilizacional do país? Qual a base comum senão a integridade territorial que a Língua cimenta, passível de ser integrado no imaginário social do país?
Tenho por mim que a abertura de espírito dos lusos, própria de povos exploradores ( em todos os sentidos... ) que, se dos britânicos, espanhóis ou holandeses, a contenção snob e a barbaridade colonizadora, marca a diferença em grau, pose e posse, dos restantes povos do Ocidente. Os " brandos costumes portugueses " fazem parte desse imaginário, que se abraçou, então, e ainda hoje, com as mulheres de todas as raças.

( a continuar... )

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