terça-feira, dezembro 27, 2011

NARCISO DO MEU ÓDIO...


... E VÓS TAMBÉM, NOJENTOS DA POLÍTICA
que explorais, eleitos, o Patriotismo!
Maquereaux da Pátria que vos pariu ingénuos
e vos amortalha infames!
E vós também, pindéricos jornalistas
que fazeis cócegas e outras coisas
à opinião pública!
E tu também rebento fardado:
Futrifica - te espantalho engalonado,
apeia - te das patas de barro,
larga a espada de matar
e põe o penacho no rabo!
Ralha - te mercenário, asceta da Crueldade!
Espuma - te no chumbo da tua valentia!
Agoniza - te Milhafoles armado!
Desuniversaliza - te da doutorança da chacina,
da ciência da matança!
Groom fardado da Negra,
pária da Velha!
Encaveira - te nas esporas, luzidias de seres fera!
Despe - te da farda,
desenfia - te da Impostura, e põe - te nu, ao léu
que ficas desempregado!
Acouraça - te de senso,
vomita de vez o morticínio, 
enche o pote de raciocínio,
aprende a ler corações,
que há muito mais a fazer
do que fazer (TRAVAR , perdoa - me Almada!...) revoluções! ( é que os tempos são outros... )


... E tu, meu rotundo e pançudo - sanguessuga,
meu desacreditado burguês apinocado
da rua dos bacalhoeiros do meu ódio
co'a Felicidade em casa a servir aos dias!
tu tens em teu favor a glória fácil
igual à de outros tantos teus pedaços
que andam desajuntados neste Mundo,
desde a invenção do mau cheiro,
a estorvar o asseio geral.
Que mais penso em ti, mais tenho fé e creio
que Deus perdeu de vista o Adão de barro
e com pena fez outro de bosta de boi
por lhe faltar o barro e a inspiração!
E enquanto este Adão dormia
os ratos roeram - lhe os miolos,
e das caganitas nasceu a Eva burguesa!
...
... Olha para ti!
Se te não vês, concentra - te, procura - te!
Encontrarás primeiro o alfinete
que espetaste na dobra do casaco,
e depois não percas o sítio,
porque estás decerto ao pé do alfinete.
Espeta - te nele para não te perderes de novo,
e agora observa - te!
Não te escarneças! Acomoda - te em sentido!
Não odeies ainda que ainda agora começaste!
Enjoa - te no teu nojo, mastodonte!
Indigesta - te na palha dessa tua civilização!
Desbesunta - te dessa vermência!
Destapa a tua decência, o teu imoral pudor!
Albarda - te em senso! Estriba - te em Ser!
Limpa - te do cancro amarelo e podre!
Do lazareto de seres burro!
Desatrela - te do cérebro-carroça!
Desata o nó cego da vista!
Desilustra - te, descultiva - te, despole - te,
que mais vale ser animal que besta!
Deixa antes crescer os cornos que outros adornos da civilização!...


Almada Negreiros - excertos, abusivamente retirados, do Narciso do meu Ódio de Almada Negreiros


Que querem? Não estou nos meus dias...