quinta-feira, abril 28, 2016

SÓ POR PUDOR...

... E ESTUPEFACÇÃO...


...AINDA NÃO EMITI OPINIÃO SOBRE O QUE SE ESTÁ A PASSAR NO BRASIL.
É - ME DIFÍCIL CARACTERIZAR UM PAÍS TOMANDO A SUA CLASSE POLÍTICA COMO EXEMPLO E REFERÊNCIA, ASSIM COMO O POVO QUE A ESCOLHE.

SÓ O PODERIA FAZER ATRAVÉS DO CONHECIMENTO DA PULSÃO ÉTICA DA SUA CIDADANIA, JÁ QUE DA SUA POLÍTICA, DA SUA ECONOMIA, DO SEU RACISMO, DA  SUA DESIGUALDADE SOCIAL, JÁ TUDO FOI DITO E, CURIOSAMENTE, NÃO POR ELES, COM A ATENÇÃO E INDIGNAÇÃO QUE MERECERIAM.

SIGO COM ATENÇÃO A MARCHA DOS ACONTECIMENTOS...

AINDA com GASSET...

...E O IMPASSE CIVILIZACIONAL

" Ao usá - los, nunca se manteve acima deles, como qualquer homem responsável deve fazer, conservando o domínio do seu funcionamento, dono assim do seu próprio destino e, portanto, do porvir histórico. Não vale a desculpa de que não se podia ver do interior desse século o quie lhe faltava, porque as individualidades verdadeiramente superiores daquela idade - uns quantos homens de esquina, meditabundos - o previram com toda a clareza e o declararam com todo o rigor.

Um raciocínio simplíssimo levava a essa antecipação. O instaurador da democracia não fora educado em democracia mas no " antigo regime " ou no resíduo ainda persistente da sua atmosfera ética. O iniciador do especialismo não era, por seu lado, especialista, antes possuía ainda a enciclopédia da sua ciência. A indústria triunfante não se alimentava do ar público por ela criado, antes se beneficiava de quanto na sociedade ainda sobrevivia do abiente pré - industrial. O século XIX, pois, juntava as vantagens dos novos princípios às sobrevivências favoráveis do anterior. Ele não era filho de si mesmo. O que de inovação radical havia na sua obra - a nova organização da vida - não reactuava ainda na sua vida. Mas era evidente que se evaporavam, geração após geração, os restos do século XVIII e ficavam em seco, isolados, os novos princípios. O Homem nascido para a vigência plena destes, e só destes, era o filho da Revolução, o novíssimo Adão.
Porque não interrogar - se automáticamente se esse novo tipo de Homem tinha condições para continuar o plano histórico que o século XIX inicia? Porque não interrogar - se se o educado na pura democracia será capaz de ser democrata carecendo de ética complementar? Se o especialista nato poderia ser na verdade « homem de ciência » ou antes perderia todo o contacto com as raízes mesmas do saber? Enfim, se o industrialismo abandonado à sua própria gravitação não se anularia - por causas múltiplas - a si mesmo?

O século XIX não quis responder a estas perguntas e por isso as respostas andam agora na reua caminhando pelos seus próprios pés. São o problema gigantesco, ímpar na História, que aquela centúria tão gloriosa nos legou. O filho da democracia liberal é de intenção anti - liberal e, com rigor, anti - democrata ( sendo ao mesmo tempo uma coisa e outra ). O filho do especialismo científico não sente entusiasmo pela ciência. O industrialismo filial daquele triunfante começa a perder a própria cabeça. E tudo isto é - o o homem - novo galantemente, cínicamente, futilmente. Porque não mostra sequer a pretensão de ter superado todas essas coisas num novo sistema de normas vitais mais acutilantes e exactas. Parece disposto a viver em seco, sem normas, sem projectos de nenhuma classe ".

Este poderoso e lúcido lamento do filósofo do " vitalismo ", apesar de datado, em circunstâncias penosas para o Ocidente, então, remete - nos a um eterno retorno historicista que o dealbar do século XXI ressoa em cristalina constatação. Nunca como agora o planeta se viu servido de tão extraordinários instrumentos, que marcam uma evolução a que a Razão obriga. Só o seu portador - HOMEM - permanece irredutível às mudanças que as suas descobertas, em todos os campos do Conhecimento, o urgiriam.
Simplesmente aterradora a visão de um futuro em impassante GESTÃO BU(R)ROCRÁTICA a que já nem o Pensamento escapa...

terça-feira, abril 26, 2016

RELEMBRANDO GASSET


                               



                                                                ORTEGA  Y  GASSET

E DO PORQUÊ DAS COISAS SEREM O QUE SÃO, HOJE...


" A glória do século XIX foi a implantação de certos princípios que criavam uma vida pública radicalmente nova e oposta, no essencial, à de todos os tempos. O homem que governa esse século não teve de inventar esses princípios nem sequer as formas primeiras, embrionárias da sua aplicação.
Educado no século XVIII, recebe dele todo esse tesouro e, além disso, o impulso ideal que move internamente o seu ânimo. Não tem, pois, grande mérito o ter - se lançado enérgicamente na execução de tão magnífico programa vital. Só numa coisa podia esse homem do século XIX ter mostrado a sua genialidade, a sua relevação de alma: no cuidado que poria ao realizar o empreendimento, a vigilância e sentido de responsabilidade que presidiria à sua marcha. Três séculos - na verdade toda a história europeia - se tinham esgotado para desafiar esse maravilhoso projecto que foi posto nas suas mãos. Nada mais fácil do que lançar - se a ele. Apenas iniciada a sua instauração comreça a produzir efeitos fabulosos.
O homem do século XVIII não viu funcionar em plena vigência nem a democracia, nem a experimentação, nem o industrialismo que inventara. Ignorava, pois, as repercussões do seu funcionamento sobre a natureza humana. Ficava para o século XIX o compromisso de completar aquele sistema de princípios com um sistema de correcções e complementos inspirados na prática.
Pois bem, é curioso notar a constância com que o século passado falta a esse compromisso. Não compreende que ao educar os homens em novo regime de democracia é também preciso ensinar - lhes algo mais do que democracia, isto é, algo mais do que os seus direitos, a saber, as suas obrigações. Não compreende que a Ciência, ao tomar o caminho experimental, tendia inexorávelmente a dissociar - se num especialismo mecânico que era forçoso compensar de alguma maneira para manter a própria substância da Ciência, que é a sua unidade. Não compreende que o industrialismo abandonado à sua própria índole torna a humanidade escrava da produção, dando assim à economia um  predomínio na vida pública e na privada que significa uma deformação monstruosa do organismo humano. Ou melhor: compreende tudo isto, como não podia deixar de ser, mas não cumpre os deveres que essa compreensão automáticamente lhe define..
Quanto mais se analisa o século passado mais claro se vê que quase tudo o que nbele é bom, não é dele mas do século anterior e que apenas uma tenaz prevaricação histórica é totalmente dele. Faltou conscienciosamente a quanto na sua missão histórica implicava dever de inventar. Não acrescentou nada essencial ao já recebido, antes se deixou deslizar pela encosta que os princípios herdados indicavam.

( continuaremos... )