sábado, janeiro 19, 2019

BREXIT?

RELEMBREMOS G.PAPINI...


" Reparai num mapa da Europa. A Inglaterra lá está no alto, à parte, por sua conta própria, e olha o Continente como um cão a vigiar o rebanho lá em baixo, como uma ave de rapina oculta entre as nuvens para saltar em cheio sobre a vítima, como um severo vigilante espia com suspeita a sua gentalha.
Os países da Europa estão todos ligados, compactos, todos juntos e confiantes, mesmos os mais remotos. São uma família, e nas famílias não há sempre acordo, nas famílias há, por vezes, divisões e zangas mas, em suma, há sempre recordações, sentimentos, interesses comuns. A Europa continental é tão sociável, tão amiga do mundo, que, por um lado, parece uma só com a Ásia e em baixo, no meio-dia, se projecta com as suas ilhas e penínsulas até quase tocar em África.
A Inglaterra, não. Reconhece que a Europa não é a sua pátria. A Inglaterra não tem nada que ver com a Europa. Com o seu focinho apontado ao polo e as suas alturas brancas sobre o mar mostra claramente que não quer pertencer ao Continente. " - La spia del mondo

Escrito em 1955, o fascista Papini, céptico então de uma, para ele, inexistente pulsão europeísta da velha Albion, à qual remete a posse de uma soberba atávica e irremediável contra a qual nem o seu empedernido pragmatismo consegue dissimular a convicção.

Hoje, a História política e imperialista da Grã-Bretanha será do conhecimento, quero crer, dos mandantes da U.E., depositários dos interesses da Comunidade contra o, diria Papini, farisaísmo do Brexiters e dos seus apoiantes.

Temos em presença uma singularidade extraordinária. Por um lado uma liderança negocial por parte de uma primeira-ministra que foi contra a saída da U.E. e que está a funcionar burocráticamente contra os mestres da Burrocracia europeia. Por outro temos os anti- Brexit, aparentemente liderados por uma oposição política cujo líder, Corbyn, nunca foi um militante activista determinado contra o Brexit, mesmo nos dias que correm...
Tornou - se um imperativo, dada a bagunça criada por uma decisão política impulsiva, para não dizer pior, que não reflectida, pelo resultado, hoje se sabe manipulado, do referendo do Brexit, conseguir tirar o máximo de vantagens, comerciais e outras das negociações, o que não parece ser possível.
MAS...

domingo, janeiro 13, 2019

COISAS E... LOISAS

MARCELO

O populismo civilizado do presidente da República tem, na minha avisada opinião, tanto de pernicioso como de meritório, na contemplação do desiderato democrático que deve aproximar os eleitos dos eleitores.
O acrescido, se como julgo propositado mérito, tem a ver com o desvio de pulsões político-sociais negativas que o lado negro do populismo se prepara para organizar contra os valores humanistas da Democracia. O pernicioso terá a ver com uma responsabilização político-instrumental que fácilmente lhe será assacado quando e se a operacionalidade política do Governo encontrar pela frente obstáculos fortes.

É que a raíz do populismo entronca - se na inferida convicção de uma capacidade de intervenção por parte de actores políticos ou politizados capazes de sobrepujar as complexidades de um regime com nada de redutor e cuja manutenção e acarinhamento nos deve a todos,inclusive aos não - democratas.

Pensar uma liderança liberta das amarras civilizadas das Leis da República e do humanismo dos seus valores, simplificadora da realidade na soltura dos instintos mais básicos da nossa condição e que a Democracia tenta amestrar, é uma contra-revolução reaccionária à qual uma resistência preventiva terá de ser uma obrigação de todos os democratas.

Quero crer, falso, acredito que a diferença entre o populismo plus do presidente e qualquer outro arremesso reaccionário e ou neo-fascista, servirá de equilibrador no cotejo, mesmo que inorgânico e mal esclarecido, entre uma coisa e outra.

RUI RIO

O presidente do P.S.D., partido social-democrata na Oposição, Rui Rio, tem - se recusado a abandonar a matriz social-democrata do partido fundado pelo Sá - Carneiro nos anos quentes da Revolução dos Cravos em Portugal. Com isso deu uma guinada à deriva direitista encetada pelo anterior líder Passos Coelho. A reacção dos passistas, que têm actualmente a maioria no grupo parlamentar saído das últimas eleições tem sido de molde a fragilizar a actual liderança, deplorando a pouca virulência da actual Direcção do partido dirigido por Rui Rio, no ataque político ao partido socialista no poder.

Luís Montenegro, um dos mais importantes chefes-de-fila dessa oposição desabrida surgiu, a três meses das eleições europeias, num lance ainda pouco descortinável dada a sua singularidade política, a desafiar a liderança de Rio, propondo um Congresso extraordinário com uma agenda declarada de deposição da actual liderança.
Tenho por mim que quanto mais a ala passista, hoje liderada por Montenegro e a eminência parda de Relvas, mais os mendistas, teixeiristas, santanistas, etc... se assanharem contra a falta de demagogia de Rio, mais se me reforça a convicção de que o afastamento do pote do Orçamento e as negociatas para os boys, por mais quatro anos, já que parece evidente que esta solução governativa, um Ferrari em velocidade de cruzeiro, com as travagens certas antes das curvas a evitar as derrapagens, está a toldar os valores sociais-democratas do PSD, ou pelo menos de uma minoria maisglutona. É que Rio foi eleito há um ano, apenas...

Agradou - me a reacção do visado...