sexta-feira, março 08, 2019

DIA INTERNACIONAL DA MULHER


                                                                             SATÃ
Deixa - me. És livre. Já te não retenho. Não poderei mais esquecer - te, mas deixa - me agora - foge!

                                                                            VIRGIA
Não, não quero fugir. Agora, que rompeste o cerco do encanto que me prendia ao chão e que posso livremente ir para casa, não quero abandonar - te. Aquela que não esquecerás, tem ainda alguma coisa a dizer - te.

                                                                             SATÃ
Deixa - me! Deixa - me só com a minha incurável dor.

                                                                            VIRGIA
Mas é precisamente essa dor o meu ponto de apoio e o meu penhor de esperança. Eu poderia  falar - te das inúmeras dores que fazem delirar os homens e que são obra tua. Poderia falar - te dos furores dos povos, do sangue que alaga dia - a - dia a Terra, do infindável pranto nocturno dos feridos e dos pecadores, da infâmia que envilece e corrompe almas sem conta, da aflição que tritura e torce tantos corações, das incuráveis epidemias, do ódio, da cupidez, da vileza e do pecado, de tudo o que humilha, mortifica, dilacera, infecta e consome os meus irmãos por culpa tua. Mas eu não quero falar - te na dor dos homens. Eu faço apelo à tua dor, ao teu desejo inconfessado de tornar à Glória. Eu faço finca - pé na tua memória, não de todo abolida, na tua saciedade milenária, na tua desesperação por ter de sempre desesperar. Eu chamo - te em socorro de ti mesmo

                                                                            SATÃ
Vai - te, repito. Ofereces - me o impossível. As tuas palavras redobram a minha tortura.Tu própria, que dizes amar - me, não me amas, visto que me fazes sofrer.

                                                                          VIRGIA
Se tiveres coragem para te renegares a ti mesmo, eu prometo - te o perdão do género humano. Se tiveres força para tornares a ser o que foste, eu prometo - te o amor do género humano. E, entretanto, como ínfimo sinal, aceita o meu amor.

                                                                            SATÃ
Eis o Tentador tentado! O que não conseguiu um Arcanjo, conseguirá porventura uma mulher? Seria demasiado absurdo acreditar no que me ofereces! Pões a lampejar diante dos meus olhos o impossível. Como poderei crer em ti? Também eu fiz tantas promessas e não eram senão laços e alçapões. Poderei jamais crer em ti? Vai - te embora, digo - te. Deixa - me!

                                                                         VIRGIA
Vou deixar - te. Mas tu mesmo há pouco disseste uma palavra que conforta a minha esperança Disseste que não poderias esquecer - me. E não me esquecerás.Tu hás - de ir em minha procura e eu conseguirei salvar - te, porque a tua dor será doravante cúmplice do meu amor.

                                                                         aparta - se Virgia e sobrevém Uriel

                                                                          URIEL
Estás só, finalmente? Então, vamos.

                                                                           SATÃ
VAMOS? MAS AONDE?

O Diabo - Giovanni Papini

segunda-feira, março 04, 2019

CAÇA AOS BRUXOS E... BRUXAS?


SOU CONTRA A VIOLÊNCIA...
mas sei que posso praticá - la, sem me sentir solidário com ela.


O Juíz Neto de Moura, que não conheço, a não ser através de críticas opiniões alheias e as minhas, naturalmente, tem, sobre algumas matérias dadas ao conhecimento público últimamente através de acórdãos a sustentar deliberações sobre alguns julgamentos de casos que lhe foram parar às mãos,
juízos fortes  que têm abalado o ar dos tempos tendencialmente imbecilizantes do Ocidente.

Tem sobre o adultério, feminino para o caso, uma repulsa identificável nas citações e atenuações com que contempla o seu jurídico julgamento sobre essa matéria, suscitando para o exterior uma " pretensa " solidariedade e compreensão pelo agressor contundente, o masculino, contra o feminino vitimizado.
Quero crer que essa solidariedade seja alimentada, não na sua componente violenta, naturalmente, pela maioria esmagadora dos homens para com os machos traídos e não acredito que nenhuma mudança substantiva tenha ainda ocorrido ao nível do imaginário masculino que à hipocrisia dominante não renegue tal facto.
Não creio que o linchamento público que sobre as suas idiossincracias conjugais tem sido vítima seja a raiz mobilizadora de tanto ecumenismo.

Todo o julgamento, institucional ou não, feito pelo humano, por qualquer juíz, sobre o que quer que seja, arrasta consigo toda a história do julgador, TODA.
Haverá juízes reaccionários, esquerdistas, liberais e fascistas. Haverá juízes pederastas, pedófilos, gays, transgéneros e... viris. Haverá juízes racistas, fundamentalistas, homofóbicos e anti-feministas. E haverá juízes racionais, humanistas e técnicamente competentes para a função. De outros tipos, na diversidade dos perfis humanos, acrescente o leitor.

A atribuição de processos judiciais e julgamentos obrigaria, face à exigências da urbe (qual?) , a um pré - julgamento de cada juíz antes da atribuição ajuízada não vá acontecer a condenação por violências psicológicas sobre o masculino, menos contundente e mediático, talvez, mas eventualmente brutal para a vítima, entre outras singularidades como pederastas a julgar pederastas, juízas pró - vida a condenar abortos para lá dos prazos legais, enfim, imagine...

Voltando ao caso em análise, foi o ataque mais cerrado que até hoje me foi dado a contemplar sobre um juíz pelas suas opiniões fora - de  - época expressas públicamente.
Podemos, SEMPRE, em Democracia, sem correr riscos visíveis, ajuízar e tecer opiniões sobre TUDO E MAIS ALGUMA COISA e vergastar públicamente, moral e racionalmente tudo o que conflitua com os nossos " adquiridos " culturais.Um privilégio que, em nome da liberdade de expressão, se excede com frequência em insultos vexatórios na opinião dos visados.

Chegados aqui, só os tribunais, se se chegar aí, decidirão.

Por mim, estou curioso sobre os acórdãos que irão dar à luz e a previsível histeria mediática até lá.

"Dissimular e monopolizar a agressão sob pretexto de refrear a violência é provocar e justificar a violência " - Hacker 

E ela tem muitas faces...