sábado, janeiro 17, 2015

COMISSÃO JUNCKER

EVIDENTEMENTE...

A U.E., através da Comissão Juncker, resolveu fazer uma leitura " inteligente " do Tratado Orçamental que irá permitir que o investimento público, ou seja o endividamento estatal, não conte para o limite do déficit orçamental imposto  sobre todos os estados membros e pensa alargar a visão sobre as reformas estruturais numa reinterpretação virtuosa e pró - activa das acções governamentais que tenham impacto positivo na competitividade económica e na redução do maior flagelo da última década - o desemprego jovem, criado por uma política austeritária que reduziu a escombros a economia dos países, nomeadamente Portugal, do Sul.

É evidente que essa devolução parcial de soberania económica aos países intervencionados, directa ou indirectamente, é  um passo importante na suspensão da pouca inteligente condução dos destinos dos povos da U.E. por uma política de austeridade tão pouco inocente no aproveitamento da Crise e cínicamente aplicada em proveito dos países e investidores nas dívidas soberanas da Grécia, Irlanda, Portugal, Espanha e Itália.

Chegados ao fundo do poço, impossível cavar mais, a obscenidade predadora tinha de parar e eis - nos apresentados a uma nova Comissão que irá permitir à acumulação de capital capturado às massas trabalhadoras o reinvestimento virtuoso dos lucros num universo de trabalho cujas leis foram completamente subvertidas em prol do chamado empreendedorismo empresarial.

Porquê agora? O que é que mudou? A simples mudança da Comissão, findo o período barrosista não chega para explicar a mudança de agulha que Merkel e companhia resolveram patrocinar, nomeadamente por se dar o caso de Juncker ter sido até há pouco tempo um defensor das políticas aplicadas aos países sob o memorando troykista.
Mudou o quadro das relações de trabalho com a flexibilização das leis laborais, houve uma acumulação obscena do capital financeiro que a especulação financeira proporcionou e últimamente uma descida consistente do preço do petróleo e uma previsível reviravolta na composição partidária dos governos do Sul com propostas alternativas de mudança.

A Austeridade cumpriu o seu papel e convenhamos fê - lo com a cumplicidade de governos da área política do Poder  maioritário nas instituições da U.E. Só não atingiu o pleno devido a resistências, na minha óptica pouco consistentes, das oposições regulares dos partidos e, principalmente, extra - parlamentares.
O ir para além da troyka, foi, em Portugal, o cartão de visita de uma burocracia partidária, zelota e lambe - botas, aplanando o asfalto para Repartições extra - nacionais, em maximização da pobreza dos curricula, profissionais e pessoais.

A reabilitação política da Direita europeia, a encetar pela Comissão Juncker, tentará balizar os limites que os próximos governos ( a chantagem sobre as eleições gregas é indecorosa...) a sair das eleições, com mensagens anti - austeridade, não devem passar, apesar da flexibilidade do discurso.

Veremos como, apesar da composição do Parlamento Europeu, a Esquerda dará volta ao texto...

quarta-feira, janeiro 14, 2015

LIBERDADES ( de EXPRESSÕES )


MANIFESTAÇÃO EM PARIS ( um rescaldo... a frio... )

Olhando para os perto de cinquenta chefes de estados que estiveram presentes na cerimónia da defesa dos " valores ocidentais " , que encabeçavam o desfile de desagravo e solidariedade com as vítimas do cobarde ( pelos valores humanistas que me enformam ) assassinato levado a cabo por quatro jihadistas franceses, a falsidade e a hipocrisia pairavam clamorosas por cima de tão distintas personalidades.

Sem querer, por ora, historiar a responsabilidade directa, a montante e fatalmente a jusante, nos desenvolvimentos das últimas décadas das acções que despoletaram a tomada de uma consciência, hoje mais política de que religiosa, identitária anti - Ocidente por parte do, para simplificar, o Islão, estremeço a pensar nas acções futuras dos nossos distintos dirigentes perante a demissão temerosa da moderação islâmica face ao extremismo jihadista, dentro e fora de portas.


Num Ocidente dessacralizado, cujos valores remanescentes  disfarçam a relativização ética e moral - a liberdade de expressão  ( um universo onde o relevante subjaz de manipulações de interesses para os quais a verdade se torna um pormenor descartável... ) teima em confundir - se com a impunidade que casuísticamente nos permitimos na abordagem negligenciada com que enfrentamos, não só as nossas idiossincracias como as dos Outros.

É a liberdade de expressão que me permite, não impunemente, porque choca com o MEU respeito humano, mas para as adversariar, que reproduzo acima a selvageria sarcástica do Charlie Hebdo contemplada em algumas caricaturas ofensivas, seja qual for o ângulo da interpretação.
A gratuitidade, repugnante por vezes, da crítica humorística releva de uma militância trágica, psicológicamente demente da redação, hoje, também ela tragicàmente extinta, do C. Hebdo.

A auto - censura que nos permite sair à rua e voltar incólumes para a paz do lar, é um dos traços essenciais da nossa humanidade, se não por uma questão de defesa própria, também por uma defesa dos outros na sua relação connosco. Todos os adultos conhecem os seus limites e, em semelhança, pressupõe os dos outros, sob o risco das consequências, não só legais como as retaliatórias.

E entra - se no campo da justificação da violência, sim, como TODOS sabemos ela tem justificações e atenuantes. A História do sapiens é uma história sobre a violência, sobre as violências e as suas infindáveis faces, do soft, falso soft, à brutal, da homicida à genocida e ainda nos chocamos com a nossa capacidade infinita do que somos capazes e não da incapacidade de contrariar essa genética maldita.

Confúcio diria que os homens comuns chocam - se com coisas invulgares e os sábios com as coisas comuns.

Esperamos que o choque sentido pelas luminárias que encabeçaram a manifestação dos homens comuns tenham a capacidade de se chocarem, de facto, com os assassinatos de Paris.

P.S. - HOJE, 16 DE JANEIRO, SOUBE QUE, AFINAL, O CORTEJO DE 200 METROS, DOS  ILUSTRES NADA TEVE A VER COM A MARCHA DOS COMUNS QUE ACONTECIA NOUTRO LADO, DESAFIANDO A INTOLERÂNCIA. O CORTEJO SIMBÓLICO E COBARDE DESMERECEU OS VALORES QUE O POVO ENCABEÇOU. NÃO FOI UM LAPSO, JUSTIFICÁVEL PELA LOGÍSTICA, FOI CONTUMÁCIA.