sexta-feira, fevereiro 15, 2019

DA VIOLÊNCA, doméstica para o caso...

AMAR - TE - EI até te matar?



" Nenhuma mutação metafísica... se realiza ser ter sido primeiro anunciada, preparada e facilitada por um conjunto de mutações menores, que passam muitas vezes despercebidas no momento da sua ocorrência histórica " , dizia Djerkinski in As partículas elementares de Houellebecq, acrescentando que se sentia como uma dessas mutações menores.

Sinto - me cúmplice dessas constatações já que também o sou, uma dessas mutações menores porque a previ, preparei - a, facilitei - a e alimentei - a, na minha relação pessoal e particularmente com as mulheres e específicamente com a minha companheira e família, a emergência da ocorrência histórica que, já reduzido a cinzas não contemplarei, da ascensão do Matriarcado como solução da salvação da espécie humana.
Porquê? Porque também intuí que elas são melhores que nós, os homens, na complementaridade recíproca que, elementar, a Natureza criou. E só ali essa diferença se sobrepõe ao resto. O que não invalida, ainda hoje, septuagenário, o meu estupor reactivo, perante um universo quase avassalador durante a minha infância e idade adulta, portanto familiar, à sua emotividade, à sua sentimentalidade e à sua (ir)racionalidade.
A curiosidade intelectual sempre se sobrepôs a uma eventual agressividade tendencialmente violenta e a mutação foi acontecendo e está a acontecer ainda hoje, aos repelões.

Essa mutação, que acontecerá à medida em que pequenos e grandes acontecimentos, como a morte de mulheres às mãos dos companheiros, estamparem, se não pela irracionalidade implícita, pela empatia com a vítima, será acelerada pela sua visibilidade e repulsa civilizacional junto das Pessoas, independentemente do seu género.

Hoje, ainda nos encontramos na fase djerkinskiana das mutações menores por todo o Globo. Estão a acontecer nas escolas, na educação das crianças masculinas e femininas; na impossibilidade, de facto, de nos adultos, " avalanchear " as suas cristalizadas heranças genéticas e culturais, terá de ser também o Estado, pela prevenção, monitorização dos sinais, acompanhamento médico e repressão, a conter a barbárie.
Como? Criando competências no seu Funcionalismo em todos aqueles que lidam com essas emergências e orientando para quem sabe, atempadamente, a prescrição de medidas.

Uma leitura demorada e atenta de Friedrich Hacker e do seu livro -  Agressividade -  com o sub- título A violência do mundo moderno, é uma sugestão deste leigo.
É que o conhecimento de si e dos outros continua a ser uma máxima muito útil e libertadora...

terça-feira, fevereiro 12, 2019

AMAR - TE -EI...

...ATÉ TE MATAR?

DO FEMICÍDIO EM PORTUGAL e... OUTRAS COISAS



" A liberdade dos outros leva a minha ao infinito "- Bakunine


A desconstrução da família tradicional vai deixando um rasto de negatividades que erodiu o campo de controlo da agressividade e alargou, com a independência da mulher, o campo de exercício de uma pulsão natural contida pelo Estado - o da agressividade.

Ora, o Estado, as instituições que lhe dão corpo, suporte, legitimidade, encontra - se hoje, pelo menos em Portugal, na primeira linha como alvo de um ataque sem precedentes, na sua violência implícita, pela sua Função Pública, com uma agenda cirúrgica e dirigida à sua descredibilização ideológica e programática. Dir - se -à ser sina dos Governos nos Estados Democráticos tal desiderato, esse da conflitualidade social; acontece que as movimentações das greves dos magistrados, dos funcionários da Justiça, dos guardas prisionais, dos professores, dos médicos, dos enfermeiros, FUNCIONÁRIOS PÚBLICOS, das classes mais bem pagas dentro do universo minimalista dos salários em Portugal, são enquadradas politicamente contra o governo de Esquerda que actualmente gere os assuntos de Estado.
Em Portugal, a Função Pública é hoje, através dos seus funcionários, enquadrados pelas suas Ordens ( uma singularidade jurídica ) e de cogumélicos sindicatos representativos, o principal adversário do Estado actual, repito. Com a economia em bom ritmo e o desemprego a um nível baixo e com boas perspectivas futuras, a classe trabalhadora em geral tem andado em relativo sossego.
Assumido que foi pela Direita liberal a frouxidão demagógica do líder do principal partido da Oposição política, Rui Rio, abrem - se novas frentes de confronto com a programação política do Governo socialista em áreas vitais de futuros negócios e empreendedorismo capitalista, como a Saúde, a Educação entre outras.

Mas... perguntarão, o que é que tem toda esta conversa a ver com a morte de dezenas de mulheres, enquadradas no que se generalizou chamar como violência doméstica?

É inegável um rumor surdo de frustração social ( já se notam os marcadores que em paragens outras levaram populismos retrógados ao poder... ) de uma classe média com ambições de grandeza que recusa a solidariedade social em nome do extermínio da pobreza e prefere, ingénuamente, um capitalismo expansivo e sem regras donde se aproveitará das migalhas que antes da ralé lhe cairão ao colo.
Neste caldo pré/pró-populista de projectadas mudanças, como soe dizer - se hoje, em referência a certos desvarios sociais, o campo de disputa territorial e de bens, profissionais, sexuais, dos pequenos poderes, em suma, circunscrito no imaginário viril e hoje também no feminino, vai - se estreitando à medida em que os desafiantes femininos, hoje maioritários, se vão impondo nas suas prerrogativas de PESSOA, enquanto os adereços culturais e humanistas teimam, condicionados por milhares, se não milhões da anos de condicionamento animal e também cultural, em desaparecer.

É evidente que as frustrações naturalizadas - Tento contínuamente demonstrar que o agressor humano é precisamente o que se sente agredido e sente as suas próprias agressões como uma contra - agressão " - Friedrich Hacker - serão sentidas de forma diferente por A,B ou C, consoante a sua história pessoal, pelo que a transversabilidade e incidência da agressão viril fazendo parte do seu ADN, tem de ser observado, pelos educadores e pelos julgadores não só do ponto de vista das aquisições culturais como contextualizados numa história pessoal e... colectiva.

Não se trata da desculpabilização da violência, que as exigências sociais de simplificação condenatória reduzem à psicopatia misógina mas sim uma obrigação, pelo menos no que à Justiça concerne, de uma abordagem mais abrangente do fenómeno generalizadamente apodado de violência doméstica. É que a agressão tem vários disfarces e, na sua expressão física, por contundente, não deveria levar à desvalorização das suas outras faces, tão daninhas, embora não letais mas que despoletantes, pelo verbo e pelo comportamento, possam incrementar em seres afectáveis, reacções desproporcionadas.

A aparente gratuitidade da violência sobre as mulheres tem muito mais que se lhe diga.
A palavra, pois aos especialistas que não à rua, à indignação célere e aos feministas.