quarta-feira, agosto 02, 2017

D'os IMAGINÁRIOS SOCIAIS ( cont. )

O MEU, NATURALMENTE...,

... NO SOMATÓRIO DO TODO

O racismo e a xenofobia, comum entre todos os povos em relação ao forasteiro e estimulado pelas diferenças não só físicas como culturais, uma banalidade social aos poucos em extinção pelo globo, assim como o machismo e um feminismo obsoleto que os seus resquícios ainda sustentam, a existir e existe, em franjas marginais da sociedade portuguesa, teve o seu tempo histórico e não é hoje sustentável em Portugal.

Se quisermos, por outro ângulo de incidência na criação desse imaginário, num plano hermenêutico de pesquisa de que Taylor chama de " expectações " no plano ético/moral e que eu reduziria à qualidade do civismo, num englobamento, chamemos - lhe ontológico, há um dado adquirido ao qual se atribui muitos nomes consoante o grau de depreciação agreste ou benévola. Ele é o " DESENRASCANÇO ", uma auto - assumida, pretensiosa mas aplicável genéricamente às gentes lusas, capacidade de contornar, no sentido lato, instrumental, ético ou mesmo moral, as contrariedades da vida.
A diferença, em relação ao que se poderia chamar de iniciativa, comum à racionalidade, está no atrevimento e desfaçatez normalizados como prática do dia - a -dia em todos os campos de actividade, mesmo a especialização. ( esta prosa não é uma teorização social, avisa - se, é o meu imaginário... expresso )
Essa evolução, que desde a Revolução de Abril se foi cimentando na nossa modernidade e que pela rapidez com que, no espaço de uma geração, se impôs no imaginário moderno português, atesta o alcance que o condicionamento fascista, repressor, do Estado Novo de Salazar tinha num imaginário que, liberto das amarras, se expôs em toda sua glória.
A autoflagelação, a auto - crítica feroz recorrentemente vem à superfície como resquícios dessa vil tristeza a que Portugal esteve submetido durante o que hoje nos parece uma eternidade, uma eternidade que também foi o reflexo da ideia que Portugal tinha, então, de si.

terça-feira, agosto 01, 2017

UM RAPOSO reaccionário...

...ATÉ MAIS NÃO

ATAQUE AOS MEDIA!!!???


Desconhecia até há poucos dias essa capacidade directa e dirigida dos partidos de controlara Comunicação Social em Portugal. Fico de sobre-aviso...

O upgrade, assim para o desmiolado da caracterização do Partido Socialista, para não falar das transmontanas diatribes contra o Bloco de Esquerda e o acirrado ódio ao P.C.P., estão a atingir um nível preocupante dentro da Direita portuguesa.
A leitura, em desconcerto, da última prosa de Henrique Raposo no Expresso, a par das histórias de cadáveres, dos suicídios, dos ciganos, de ameaças inconsequentes de moções de censura, puseram - me os cabelos em pé.
Utilizar o Expresso, o meu jornal, para isso, é inadmissível. O Expresso não é o Correio da Manhã; sempre se pautou, globalmente, pela distanciação objectiva e inteligente, não isento de críticas, óbviamente, nas suas análises, que nem mesmo o mais empedernido sectarismo conseguia abalar na credibilidade dos seus colaboradores. A inteligência crítica sempre foi por mim saudada, a emotividade rasteira e manipuladora nunca aí se tinha denunciado, até agora.

Raposo cita Trump, a despropósito, sobre pretensos fake news instigados pelo P.S. e parte para uma teoria de conspiração delirante, enquanto despeja estados de alma pungentes para cima do leitor a passar por análise racional.
De que fala ele? Confesso que não percebi. Se de uma conspiração do P.S. no sentido de controlar os Media, propriedade da Direita, já agora, com o, hoje, insidioso contrabando do nome Sócrates a credibilizar as pretensas denúncias, entra - se no campo da infâmia ( não, a ingenuidade não mora por aqui... ) e já estamos a entrar no campo da erosão... ética.

E... fico - me por aqui, até porque quero crer que será uma fase passageira no desnorte que se apossou do universo dos direitinhas...

segunda-feira, julho 31, 2017

DIA MUNDIAL DO ORGASMO!!!???


ORGASMO? TÃO FÁCIL COMO SALTAR À CORDA...

UMA BUROCRACIA..., MAIS INTERESSANTE DO QUE A CONSAGRAÇÃO, ESSA, IMBECIL, DO DIA...

D' OS IMAGINÁRIOS SOCIAIS...

... SUSCITADOS PELO ESTADO ACTUAL DO PAÍS
                                                                 ABEL MANTA


Sobre os " Imaginários sociais modernos ", título do livro de Charles Taylor, um estudo comparativo/evolutivo das pegadas sobre o desenvolvimento dos movimentos políticos, sociais e religiosos que caldearam a sedimentação, no Ocidente e válido para o resto do mundo, dos valores adstritos a cada uma das representações simbólicas ou efectivas, do nosso modo de ser, através da História, há um mundo vasto de hermenêuticas díspares que nos atiram, pela força das reacções destemperadas, a interrogar - nos sobre o espaço social que nos rodeia.

Marca distintiva do que hoje poderíamos chamar de " civilizações ", sob(re) a abrangência do que hoje se apelida de Globalização, as " práticas sociais ", das aldeias às cidades, das nações aos continentes, do Ocidente ao Oriente, definem o que o autor chamou " Imaginário social ".


Qual será, interrogo - me, à luz dessa reflexão, o imaginário social luso? O que pensa o país de si e ... do Outro? Como se protagoniza em relação ao exterior?
Vários personagens ilustres portugueses se debruçaram, uns em angústia, outros satíricamente, outros em escárnio e outros em emulação, sobre essa contingência. De Aquilino a Torga, de Sena a Pessoa, de Almada a O' Neill, de Saramago a Herman José, traçaram pistas de entendimento e catarse à alma lusa, eventualmente imbuídos dessa condição de eles próprios fazerem parte desse imaginário interrogado, numa relação de estima/repulsa tão singular como a deste escriba, ave de arribação de Cabo Verde, desde 1964.

A caracterização do que na gíria e no fado se chamaria a " alma lusa " é um tema sensível e conflitual; provoca reacções extremadas e acefalias recorrentes, quando são denunciados aspectos ( sejamos políticamente correctos... ) menos abonatórios do carácter globalizado do ego português, ( existirá como tal ou é um mito social?), as suas taras e manias, as suas obssessões e presumíveis laxismos morais.
Nem tempo, nem espaço e nem paciência para englobar citações de apoio das investigações sobre os portugueses, dos portugueses e dos outros sobre os portugueses, que sobre o imaginário deles e dos naturais teceram um " imaginário social luso ", fico - me pela vasta experiência das minhas solitárias e partilhadas observações do país e dos seus habitantes, do Portugal de lés-a-lés.

Uma bizarra combinação da mais espontânea generosidade com a mais vil mesquinhez atravessa verticalmente o tecido social luso.
Antes, vai um esclarecimento necessário - " Por imaginário social entendo algo de muito mais vasto e profundo do que os esquemas intelectuais que as pessoas podem acoitar quando pensam, de forma desinteressada, acerca da realidade social ", diz - nos o prof. Taylor.
 É, contudo, exactamente, nesse esquema intelectual que me quero situar, como observador, para lá das " imagens " de conforto ou desconforto que são partilhadas colectivamente.

A auto - flagelação depreciativa, íntima, mas projectada no colectivo, que o atavismo provinciano contemplado pelas necessidades constantes de reforço de auto - estima na relação com o Outro(s) transporta, espraia - se em toda a Comunicação, verbal, escrita ou televisiva, em Portugal, a par da posse simbólica dos sucessos dos conterrâneos. A excelência, que simbióticamente se parasita funciona, compensatóriamente, como placebo temporário até à próxima crise.
Ronaldo, Saramago, Mourinho, entre outras genialidades reconhecidas pelo Outro, são os avatares modernos dessa projecção fantasmática.

Qual o dado adquirido civilizacional do país? Qual a base comum senão a integridade territorial que a Língua cimenta, passível de ser integrado no imaginário social do país?
Tenho por mim que a abertura de espírito dos lusos, própria de povos exploradores ( em todos os sentidos... ) que, se dos britânicos, espanhóis ou holandeses, a contenção snob e a barbaridade colonizadora, marca a diferença em grau, pose e posse, dos restantes povos do Ocidente. Os " brandos costumes portugueses " fazem parte desse imaginário, que se abraçou, então, e ainda hoje, com as mulheres de todas as raças.

( a continuar... )