sexta-feira, janeiro 17, 2014

WORDS IN TRANSLATION...

UMA FELIZ COINCIDÊNCIA

Há dias postei por aqui um texto a que dei o título de WORLD IN TRANSLATION e teci considerações sobre a lentidão evolutiva versus avanços científicos com que as civilizações mais desenvolvidas estão a enfrentar os desafios do humano.

Hoje, deparei - me com um texto de Daniel de Oliveira no Record   titulado, por empréstimo não casual como vim a constatar, de Lost in translation, com o qual, servindo de mote às desventuras de Víctor Pereira nas arábias com um assessôr federativo muito cioso das suas prerrogativas de orientação de uma conferência de imprensa, dizia, vergastava ignorâncias atrevidas remetendo - nos à interpretação guionista e semântica do filme e do enredo que deu título à sua prosa, chamando a atenção ao uso de " pegar em palavras e procurar o seu correspondente noutra língua ", sic, correndo o risco de snobeira mal avisada.

Querem ver que eu enfiei a carapuça?
E como não gosto de enfiar carapuça alheia, saio em minha defesa...
O conhecimento do significado de uma palavra ou expressão já foi bastamente estudado pelos filólogos e pelos filósofos da análise linguística numa perspectiva lógica, territorial e ontológica e ainda tem reverberações. Deixemos pois essas alturas e limitemo - nos à contextualização do verbo em realidades específicas translated nos dois textos que estão a originar este e que, partindo de uma referência comum, concitaram pictagramas de um e um juízo translated e apressado de outro.
As referências, mesmo que reconhecidas pelo acesso comum exigem tradução, interpretação ( translation ) e é sobre a interpretação do que a nós nos parece surreal - a marcha do mundo -  é que se suscita com o título a recorrência à obtusidade que as racionalidades ( culturas, mas também Culturas... ) habitam no dealbar do século XXI.
Quanto ao verbo, se o significado ( translation ) está no uso e tão só nas referências comuns que habitam o mesmo universo ( e qual é ele? ) falemos das traições de Pessoa com Edgar Poe e do bloqueamento de Gasset com a saudade, da arrogância snob de um e do escrúpulo respeitoso do outro.
É evidente que o tacão de um sapato pode servir de martelo; ao prego é - lhe indiferente o que para um marceneiro é ignorância se se não se desse o caso do dono do sapato conhecer a existência do martelo.

WORLD IN TRANSLATION fala de um mundo pasmado, previsível como o ano sideral, burocrático, em translação ( movimento à volta de uma estrela ) impávida às necessidades de uma TRANSIÇÃO para mudanças de paradigmas civilizacionais, visto do meu ponto de vista. A " conotação pictórica " com o filme LOST IN TRANSLATION foi intencional. A deriva comunicacional e existencial tange no formal e no concreto.

quarta-feira, janeiro 15, 2014

DISCORRENDO...



A INTELIGÊNCIA, quando não ancorada pelos valores éticos que a Tradição consuetudinária de milhares de anos de história em comum dos povos cimentaram, está ao serviço do mal; não só do Mal metafísico representado nas iconografias religiosas mas também daquele que desde o século XVIII, pelo menos nas sociedades ocidentais, tinha sido diagnosticado como racionalmente inconveniente e religiosamente pecaminoso, à assunção do humano em toda a sua plenitude como espécie racional e capaz de racionalidade, vulgo RAZÃO + ÉTICA.

Desde então, qualquer consciência esclarecida sabe, na análise dos seus actos e dos Outros, identificá - lo, se não na sua interpretação religiosa,  na sua presença agnóstica, pelo que possui de desarmonia, de indiferença, de covardia  de bestialidade e de mesquinhez.

As sociedades, pela necessidade de conter a Razão ( capacidade de pensamento e imaginação ) humana que, solta, adversaria toda e cada uma racionalidade vizinha, criaram normas de contenção da liberdade que ela propõe, primeiro através das religiões e dos seus imperativos comportamentais dos quais os livros sagrados das grandes religiões formadoras deram e dão a conhecer, condicionando - a, primeiro pelo castigo divino e, com o Iluminismo, pela penalização social através das Leis civis. a aceitação das suas normas universalizantes.

Acontece que, na interiorização voluntária desses princípios orientadores que marcaram e marcam indelévelmente todas as gerações, passadas e presentes e quiçá as futuras, ficaram espaços vazios que a Educação não preencheu. E é precisamente aí, nessa zona do Nada, nesse vazio que o Mal medra e encontra alimento, alibis, justificação e... impunidade, se não física, racional.
Nessa impunidade sem contraponto ao nível da consciência, a ética residual põe- se ao serviço de Si, e, nesse universo, tudo se torna justificável.

Nos tempos modernos, o Narcisismo, fomentado, alimentado, ensinado nesse espaço de auto - justificação do BEM  como imanência individual, medra um uso da Razão liberta das amarras de todas as éticas, desligada de uma racionalidade que deixou de ser humana, regredindo lentamente à naturalidade dos tempos primevos com o seu alargamento permanente à medida em que os povos vão sendo reduzidos à condição de sobrevivência.

A luta que a resistência espiritual trava, a esse formidável e poderoso esvaziamento das armas de indignações morais que os poderes actuais prosseguem, brande armas antigas como a Solidariedade, a Dignidade, a Igualdade, os Direitos Humanos enfim, que, se outrora tiveram eco nas almas mais humildes e nas arrogantes, hoje, relativizadas até à exaustão pela filosofia moderna, desprezível por inconsequência e contaminação original desde Platão com a sua teoria do Poder e também ela narcísica e instalada, marcando a sua irrelevância anunciada, está em perda acelerada.

As consequências que a exaustão do uso das armas cívicas e democráticas cujos parâmetros de alcance foram limitados e são controlados pelo Poder que se combate ( o mal moderno, em todas as latitudes...) estarão aí brevemente se a História de facto ainda não morreu, como eu creio, piamente.
Da mesma maneira que os nossos cérebros estão protegidos físicamente por uma barreira que impede que muitas drogas e corpos estranhos aí se alojem, as nações também a possuem em maior ou menor grau a funcionar subterrâneamente ante a corrupção das elites, cujos cosmopolitismos vistos por si como anexantes de modernidades despem - nas de outras amarras, apelidadas e sentidas pelo plebe sob outro nome -  Patriotismo - e contra isso não há razão instrumental que resista se e quando as nações se levantam sob a sua bandeira.