quinta-feira, março 13, 2014

SINGULARIDADES DEMOCRÁTICAS

NOT IN OUR BACKYARD ?

Catherine Ashton, no fervor revolucionário das lutas de rua em Kiev, exigiu a Moscovo que deixasse a população ucraniana escolher o seu próprio destino da maneira que quisesse.
Esqueceu - se das sensibilidades não tão ocidentalizadas do país, nomeadamente da Crimeia.

Yanukovcich foi deposto e bem ( terá sido? Um presidente democráticamente eleito? ) pelo seu povo em revolta na rua e foi obrigado ao exílio com os aplausos das chancelarias ocidentais. Estranho? Nem por isso...

Se um estado, qualquer estado democrático, como aconteceu na Tunísia, no Egipto, na Líbia, na Síria e poderia ter acontecido no 25 de Abril em Portugal ou poderá vir a acontecer, eventualmente, na Escócia, ou aparentemente no referendo catalão, na plena legitimidade e dever constitucional do uso da violência contra ameaças violentas internas ou externas com os meios que julgar adequados, pegar em armas contra a violência, como sempre tem acontecido em casos de resistência feroz, haverá baixas, feridos e mortos dos dois lados da barricada.
Nenhum Presidente de Estado em exercício será julgado nessas circunstâncias. Haverá , naturalmente, um julgamento político, que estando já presente na base da contestação, não se transformará em criminal caso a revolta seja anulada.
É a velha relativização das imunidades e consagrações dos vencedores com que os outrora terroristas se confrontaram, quando, vencedores sobre os poderes instalados se apresentavam perante os Poderes Mundiais.
Se não agradassem ou não viessem a ter ulteriores apoios, sejamos claros, dos USA e da Europa, do Ocidente, para condensar, seriam considerados ditadores, convenientes ou criminosos, consoante os interesses económicos ou geo-estratégicos e o seu estado um regime. Está a acontecer na Venezuela, neste preciso instante, o desenvolvimento deste desiderato, assim como na Síria e suavizou - se convenientemente com o Egipto, o Irão, a China, a Arábia Saudita e com o Sudão ( demasiados interesses petrolíferos e não só, do principal credor das dívidas dos USA ).

Este manual geo - político de tão básico, previsível e preguiçoso, pelo que de exigência política e intelectual, para não dizer também democrática, deveria contemplar, é a medíocre cartilha da Globalização. - JUST BUSINESS - diria o mafioso.

Por outro lado, é confrangedor assistir hoje a uma Europa refém de um passadismo imperial e capturada por uma bisonha filosofia política e económica deixadas ao pasto de um carreirismo burrocrático e à ganância hobbista de enfastiados endinheirados, à custa de um projecto ímpar na história europeia. Cavalga entretanto, desabrida e cegamente cavalo alheio a gritar progresso por detrás das ruínas que vai deixando à sua passagem. Mata - se a Ideia e veda - se o passo ao sonho...

" Os sinais perigosos de separatismo no país " que nunca impediram Turchinov de marchar e bem, pela libertação do seu país de um Poder indesejado, são um enfrentamento, por aqui previsto, com que a sua liberdade pró - ocidental tem de haver, a começar pela Crimeia.
É, nas palavras dos seus apoiantes, deixá - los, à população da Crimeia " escolher o seu próprio destino da maneira que quiser... ".
É que a Liberdade só deveria ter uma face, mas acontece que o seu chamamento ecoa e bem, em todo os rostos e pelo planeta inteiro.
O que fazer com ela e com a dos Outros mereceria e merece outro tipo de abordagens que não sómente as dos manuais geo - políticos.
E Putin ?, perguntará o cínico...
Eu falo como ocidental que sou. Putin defende, com esmagadora maioria do seu povo que o apoia, a sua cartilha, tão daninha como a nossa não deveria ser, o seu czarismo como o da Merkel, do Obama ou do presidente da China.
Reina a Estupidez esclarecida.
" A Política e a Lei têm de respeitar a vontade manifestada democrática e pacíficamente pelo povo" - diz Francesc Homs, consultor da Generalitat catalã. Tudo bem! E se, quando reiterada e definitivamente isso não acontece, em parte alguma, qual a máxima que usará, no caso, contra o Poder estatal?

segunda-feira, março 10, 2014

DA BANALIDADE DA RAZÃO...

... E DO CONTRAPONTO DA RACIONALIDADE,

São, terão de ser o novo esclarecimento que a Humanidade terá de se propôr, esgotadas que têm sido as formulações que o Fim de História ( para simplificar os parâmetros contrabandeados pela democracia liberal que reduziu a liberdade a uma bandeira abstracta e sem conteúdo empunhada pelo Capital... ) cristalizou na ditadura absurda do Mercado e da Bolsa.

Só uma ÉTICA universal, que contida nos estreitos limites da visão clara que o certo e o errado na consciência racional que qualquer sapiens adulto e integrado socialmente abarca, poderá limitar o desbragamento que a relativização moral transportou no estilhaçamento de valores profundamente enraízados na consciência dos povos.

A barbaridade filosófica contida, por exemplo, no pressuposto de um desses relativizadores a quem o raciocínio lógico-tautológico permitiu - lhe a máxima - A indignação moral, não o egoísmo ou a sensualidade vulgares ( haverá outras, pergunto...), é o maior perigo para o pensador - Allan Bloom in Ensaio sobre o declínio da Cultura Geral, justifica por si a distância elitista e quiçá higiénica para com os problemas concretos e penosos que a Política contemporânea traz à vida dos povos e das sociedades no seu dia - a - dia e a irrelevância civilizacional que a sua postura pseudo - filosófica de absentismo social cauciona.

O motivo desta indignação moral prende - se aos comentários sobre a intervenção de Pacheco Pereira numa das Conferências promovidas por Serralves sobre o Estado das Coisas e, principalmente, na parte que me interessa a este texto, a intransigência que no pensamento do conferencista se deve ter com a corrupção do pensamento político e dos seus actores - Não se pode ser transigente. Deve - se ser intransigente, porque o problema não é só político, é também moral. 

Pacheco ML ?, pergunta alarvemente a janela indiscreta da Visão, piscando o olho à militância de juventude do historiador.
Eu respondo por ele. Exactamente, Pacheco Muito Lúcido.