segunda-feira, julho 17, 2006

O desastre do Português...

...titula o Expresso no seu editorial, a propósito de hecatombe dos resultados do exame de Português do 9º ano de escolaridade.

Com o pedido de desculpas pela imodéstia de citação própria, recordo o que aqui foi dito em Outubro de 2003, a propósito deste tema...

" Já agora, porque não começar com o Tio Patinhas? "

Foi a pergunta deixada por um ouvinte do Fórum-TSF dedicado à introdução de textos do Big Brother e Telenovelas no " curriculum " do ensino do Português no 10º ano, em resposta aos argumentos contra a leitura " traumatizante " dos clássicos.

Quando cheguei a Portugal, vindo de Cabo Verde, no longínquo ano de 1968, para entrar no curso de Medicina, fiquei chocado com o baixo nível do Português falado e escrito dos meus colegas de curso e pelos estudantes da Secundária: o vocabulário era indigente, limitadíssimo; a formulação de qualquer ideia, mais ou menos roçando a " seriedade " do abstracto, tropeçava e tombava na incapacidade da explicação porque não havia palavras do léxico do dia- a -dia que permitissem o entendimento de uma maneira clara.

Já nessa altura, creio eu, o desconhecimento do Português estava na origem do fraco aproveitamento escolar por parte da maioria dos estudantes. Nenhuma matéria é passível de entendimento e assimilação sem se conhecer a linguagem que a veicula.

Hoje, passados estes anos todos, ninguém ainda descobriu a origem da incapacidade dos estudantes para a matemática, filosofia, etc, e abordado uma forma nova de ver a origem da " chatice ".
A verdade é que sem conhecerem o Português erudito ( que o outro o dia- a dia se encarregará disso ) não há Reforma de Ensino que nos valha.

Isso para dizer que não é facilitando, abaixando o nível das matérias, dos temas, e da linguagem que está a solução.

A aprendizagem não tem de ser traumatizante. Nenhum jovem está imune à alegria de aprender. O problema está nos adultos encarregues da sua instrução.

Não se passou muito tempo, mas parece que o diagonóstico das razões de sucessivos fracassos tarda a ser descoberto, e até lá vamos acrescentar mais uma geração de analfabetos funcionais aos que já formámos ( !!!? ) e dançar à volta de uma pergunta que também ela parece vir desse grupo: PORQUÊ ?

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