quarta-feira, outubro 03, 2007

Carvalho da Silva...

...e a luta contra o individualismo.

Quero crer que o adversário se chamaria egoísmo, nacional para o caso.

Tarde demais, meu caro! Há muito que se ultrapassou esse estádio de desenvolvimento humano, esse, o do individualismo. Agora encontramo-nos num nível de evolução perante o qual os raros obuzes de invectivas éticas, sociais, racionais até, colidem sem fragor ou eco quando não passam inermes pelos alvos, sem consequências.

A Democracia, essa está agónica. Esgotam-se-lhe aos poucos os pressupostos que tão diligentemente ao longo dos séculos implantou nos seus admiradores, nomeadamente o desejo de uma vivência colectiva harmónica e digna em sociedade.
Hoje, basta-nos o vivermos para dentro de nós próprios, dos nossos condomínios físicos e da alma. A vida pública tem-se reduzido aos grandes estádios e aos grandes eventos, que de tão universais se pessoalizaram nos seus efeitos para lá da cumplicidade tribal ou por isso mesmo.

A nossa própria biologia, à medida em que nos descobrimos molécula a molécula, remete-nos nessa procura do porquê do acontecer da Vida, para a sua precariedade e extinção e o absurdo da Morte, para o nosso universo interior.

É um tempo de angústias renovadas em que cada um de nós, voltado para si, procura em si, morto o Deus antigo, a absolvição.
O mundo está a transformar-se num convento, com uma religiosidade outra em que o novo Deus olha-nos com os nossos olhos e devolve-nos a nossa angústia e a nossa solidão.
É o tempo de Narciso que se ergue triunfante com Dionísio prostrado e atónito a seus pés.

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