sexta-feira, agosto 12, 2005

VOLTEI e por uma razão muito simples.Num tempo de arrumar papéis e de dar uma vista de olhos por coisas passadas,encontrei numa Grande Reportagem de Fevereiro de 2005 uma crónica-comentário de Pedro Mexia, que muito prezo,dissertando sobre KINSEY,à qual deu o título de Kinsey:a ideologia do sexo.

A verdade é que o que me incomodou foi,a páginas tantas,aparecer uma opinião do autor que me fez reflectir:"a moralidade é uma decisão individual.",pelo que faltou acrescentar...e ninguém tem nada a ver com isso...

Bem, se a moralidade for vista como ela é, uma construção social,portanto artificial em contraponto ao natural,claro que é uma decisão individual,como aliás todas as superestruturas da Civilização.Construção ideológica,sem dúvida,mas que extravasa do individual na exacta medida em que,da sua prática,activa ou ausente,derivam consequências que deram origem a sanções penais aceites em toda a sociedade ocidental.

Como consequência da liberdade individual numa sociedade democrática,as teorias libertárias de Marcuse e mesmo de Kinsey,que à luz da análise de P.Mexia,partiu da estatistica para uma cruzada política de afirmação sexista da liberdade individual,pouco consentânea com o cariz científico que,cito," devia ser descritiva e factual" ,têm de se conter nos limites definidos pela Lei,como qualquer outra actividade humana no espaço referenciado.

No que diz respeito ao sexo,porque é disso que se trata,as coisas nunca foram simples,porque as pulsões de tão naturais,primárias,obrigaram a tecer uma teia de restrições,que tiveram como finalidade a racionalidade da sua prática.
Ora como sabemos,passados milénios,a coisa ainda mexe connosco.
No Médio-Oriente as raparigas casam-se aos dez,onze anos-.No Ocidente a prática de sexo a esse nivel etário é crime sempre que um adulto esteja envolvido.
O incesto,condenado em todo o Planeta,por razões que variam de peso consoante a comunidade e que no fundo tem uma justificação biológica na sua proibição,que não pròpriamente a moral,é a única prática sexual que ainda resiste à liberalização.
Apesar da racionalidade subjacente à proibição,o Ocidente bate aos pontos o resto do Planeta no que à incidência do incesto diz respeito.

Por essas e por outras é que a moralidade não pode ser uma decisão individual.Poderá,quando muito,ser uma prática individual,cujas consequências terão de ser necessàriamente julgadas,quer derivem de actos políticos,ambientais,económicos ou sexuais.

A máxima com que P.Mexia acaba o seu artigo,citando STO.Agostinho-"AMA E FAZ O QUE QUISERES" é pré-histórica e além de ser perigosa, e não revolucionária,como ele diz,suscita imagens que nos tempos modernos levariam os seus praticantes inevitàvelmente à cadeia.

Parafraseando KANT,acho que a MORAL deveria ser,é um imperativo categórico,civilizacional, não nato necessàriamente e não uma decisão individual,e é o que ainda nos permite viver em comum para além da NÁUSEA...

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