domingo, setembro 24, 2006

Da função do jornalista intelectual e do intelectual jornalista....

M. S. Tavares, ( já lhe perdoei a paranóia anti- Glorioso) tem consubstanciado de uma forma que eu considero louvável o papel que ao intelectual ( como produtor de ideias, investigador das culturas, transmissor de conhecimentos, crítico " no aggiornato " de comportamentos criticáveis) se deveria exigir.
A diletância narcísica que, infelizmente, a par da deserção e da cobardia, tem marcado as intervenções que abundam por aì em nada têm ajudado à leitura dos acontecimentos e às tomadas de eventuais posicionamentos cívicos dos cidadãos.

Não foi por acaso que na sua crónica desta semana no Expresso tenha abordado o discurso de Ratzinger ( foi o intelectual a falar e não o Papa, isso foi evidente ) e lido nas entrelinhas o verdadeiro alcance do que se quis dizer.

A controvérsia que o ex- cardeal, académico e filósofo, conhecedor da Palavra e do Verbo lançou, ao citar, sem inocência o que citou, embora enquadrado numa lição sobre os contornos e contradições entre a Fé e a Razão, no mundo muçulmano teve como alvos, não só o fundamentalismo islâmico mas o cerne do Islão e dos ensinamentos corânicos. O extraordinário foi tê-lo feito como Papa e não como teólogo.
Mas o Papa quis ir mais além e ao mesmo tempo teorizou sobre os limites que à Fé a Razão Ocidental tem levantado, com todas as consequências da relativização dos valores que ela provocou no Espírito Ocidental.

É claro que a Fé e os Impérios andaram de mãos dadas durante séculos de colonização e conquista quer pelas espadas dos cruzados ou pelas alfanges da Civilização Árabe.Essa época acabou.

O relativismo ocidental racionalizou a Fé cristã ao mesmo tempo que a Ciência depurava os milagres. O Islão teve a sorte contrária dos Impérios cristãos europeus: cristalizou-se no seu passado de grandeza perdida e toda a interpretação do real ficou a cargo de um homem do século V com os resultados que se vêm actualmente.
Ver o mundo actual com os olhos de Maomé é tão patético para os muçulmanos como para os cristãos interpretá-lo com os olhos de ClementeV.

A contribuição de Ratzinger foi notável como pensador mas imprudente como político e Papa.
Que as suas palavras façam pensar com olhos de homens do século XXI aos ocidentais e aos muçulmanos é o que se deseja.

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