terça-feira, janeiro 19, 2016

DA CRÍTICA...

... E DA SUA MICROLOGIA...

" Néscios os que deploram o declínio da Crítica. É que a sua hora há muito está ultrapassada. A crítica faz - se a uma distância adequada. Está à vontade num mundo em que o que contam são as perspectivas e as ópticas e em que ainda é possível adoptar um ponto de vista. Entretanto, as coisas caíram sobre a sociedade humana de modo demasiado escaldante. A " imparcialidade ", o " olhar objectivo ", tornaram - se mentiras, ou até expressão perfeitamente ingénua de uma banal incompetência. " - Walter Benjamin, 1928

...  NOS MEDIA

" O « e » é a moral dos jornalistas " - Peter Sloterdijk in Crítica da Razão Cínica

" Os mass media foram os primeiros a desenvolver uma capacidade que nenhuma enciclopédia racionalista, nenhuma obra de arte e nenhuma filosofia de vida conheceram nessa medida: com uma compreensão imensa, dirigem - se para aquilo com que a grande filosofia nunca conseguiu sonhar - a síntese total - no ponto zero da inteligência, é certo, sob a forma de uma adição total. Com efeito, admitem um empirismo caótico universal, podem falar de tudo, tocar em tudo, meter tudo na memória, justapor tudo. ( o facto de não apresentarem « tudo » é efeito da sua selectividade sempre considerável. A mentira por selecção? ). Com isso, são mesmo mais do que a Filosofia - são os herdeiros simultaneamente da enciclopédia e do circo.


A inesgotável capacidade de « ordenamento » dos mass media assenta no seu estilo aditivo. Só por se terem instalado no ponto zero da penetração intelectual podem tudo dar e tudo dizer, e tudo sempre repetido e instantaneamente. Têm um único elemento inteligível - o « e ». Com este « e » , tudo se torna literalmente vizinho de tudo. Assim se criam encadeamentos e vizinhanças que racionalistas e estetas estavam longe de esperar: medidas de economia - e - primeiras representações teatrais - e - campeonato do mundo de motos - e - imposto para as prostitutas - golpes de estado, etc. Os media podem dar tudo por terem abandonado completamente a ambição da Filosofia, que era também compreender o dado. Englobam tudo porque não apreendem nada; falam de tudo, não dizem nada...
... O « e » é a moral dos jornalistas., De certa maneira, têm de prestar um juramento deontológico que os obriga a, quando fazem uma reportagem sobre um acontecimento, aceitarem que esse acontecimento e essa reportagem sejam colocados por meio do « e » entre outras coisas e outras reportagens....
O jornalista é alguém cuja profissão obriga a esquecer como se chama o número que vem após o um e o dois. Quem ainda o sabe já não é, provávelmente, democrata - ou então é um cínico.

E, partiremos, com Sloterdijk, à análise desse « e »...


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